sábado, 28 de setembro de 2013

FOTOGRAFANDO COM HIDE (ABRIGO CAMUFLADO)

UM POUCO DE MINHA EXPERIÊNCIA COM O USO DE HIDE, NA FOTOGRAFIA DE NATUREZA

Mergulhão Caçador (Podilymbus podiceps)
Recentemente tive uma experiência frustrante, em uma passarinhada com alguns amigos, quando ao entrarmos em uma pequena clareira, que dava acesso a uma represa, nos deparamos com um exemplar de Mergulhão-caçador, nadando calmamente a poucos metros de nós.
Frustrante por que em segundos a ave mergulhou e só reapareceu a dezenas de metros do local, inviabilizando qualquer foto com qualidade.
Comecei então a pesquisar sobre técnicas utilizadas para que se consigam boas fotos de aves aquáticas e uma das opções encontradas foi o Hidro-hide.
Trata-se de uma plataforma flutuante, adaptada para que o fotografo consiga acoplar uma câmera, munida de uma teleobjetiva e, envolto por uma camuflagem, feita principalmente com tecido, mas também com adereços diversos (redes, galhos de plantas, etc),  possa entrar na água, aproximar-se das aves sem ser visto e realizar fotos incríveis. Uma das vantagens deste tipo de suporte é a de conseguir imagens das aves no nível da água.
Bom...o Hidro-hide seria um projeto futuro, pois ainda não me recuperei do episódio "Frog-man", quando fiquei atolado nesta mesma represa.
Adaptei a ideia para um "Hide" apenas, ou seja uma estrutura com tecido camuflado, que fosse fácil de montar e carregar, que me permitisse instala-la bem próximo a margem da água e ainda, que permitisse uma visão ampla da cena, pois um novo objeto ocupava agora a minha atenção...Meu velho amigo, o Gavião-Caramujeiro!

Gavião-Caramujeiro
Pesquisei em alguns sites (todos estrangeiros, parece que no Brasil ninguém se interessa por isto...) e consegui algumas idéias, mas os materiais usados eram de difícil obtenção, ou ainda tornavam a estrutura muito pesada, isto quando não tornavam a montagem e a desmontagem uma tarefa para uma verdadeira equipe de televisão, estilo Nat Geo!
Resolvi então por os neurônios para funcionar e criar algo, com materiais que estivessem ao meu alcance e que satisfizessem as necessidades apresentadas. E acabei conseguindo isto tudo, usando na construção da estrutura, tubos de PVC de 1/2", soldáveis, juntamente com luvas de União (também em PVC).
O tecido usado na cobertura foi um Gorgurinho, com estampa camuflada, bem leve e fácil de manusear.


O Hide montado as margens da represa
Como medidas finais, a estrutura acabou ficando com 1,90m de altura, 1,20 m de largura e 1,20 m de profundidade, suficientes para abrigar duas pessoas em seu interior, ou apenas uma, com um banco para descanso. O tecido tem uma característica interessante, pois quando se está com a luz vinda por trás dele, o mesmo se torna quase que totalmente transparente, o que garante uma visão em qualquer das laterais, ou na parte de cima. Mas isto para quem esta dentro dele, visto por fora é totalmente escuro. Sendo assim, o ideal é deixa-lo com a sombra na parte traseira.
Estas fotos mostram um pouco disto que citei:

Vejam que nesta foto a sombra está nas costas do Hide, esta é a visão que temos do interior dele.

Aqui o Hide visto com a mesma posição de Luz/Sombra. Mas com a sombra sobre a parte traseira do mesmo, o tecido perde a transparência.
 Instalamos no tecido de revestimento, duas janelas feitas com tela (sombrita) usada em estufas e viveiros de plantas, além de uma abertura frontal com 1 metro de comprimento, fechada através de velcro, para a passagem da lente.



A estrutura com tubos de PVC

A colocação do tecido
Pequenas tiras de velcro foram colocadas nas extremidades traseiras, para prenderem o tecido a armação de tubos
O Hide montado, suas dimensões permitem o uso por duas pessoas adultas
O tempo de montagem e desmontagem ficou em torno de 15 minutos cada um, além de não pesar nem 3 quilos, contando com o tecido.
Fiz até este momento, dois testes com o Hide, ambos no mesmo local. O primeiro fiz sozinho, pois queria avaliar as condições de transporte (peso) até o local, bem como as dificuldades em monta-lo e ajusta-lo ao terreno. A experiência foi um sucesso!
Na segunda vez, levei meu fiel escudeiro junto, meu filho Arthur, que ajudou nestas tarefas, além de servir como modelo para as fotos que ilustram este post.
Após algum tempo em que montamos o Hide e nos alojamos (na verdade uns 25 minutos), as aves do local já não pareciam mais saber de nossa presença. Nas duas ocasiões, quem primeiro apareceu muito próximo (e nos deu um susto até...) foi o Mergulhão-Caçador.
A fêmea e seu filhote chegaram a menos de 05 metros do abrigo, permitindo que fizéssemos varias fotos  e pudéssemos ainda ver um espetáculo fantástico: a Mãe mergulhão submergir, para logo em seguida voltar trazendo dentro de seu bico, algum tipo de alimento (que não pudemos ver do que se trata), para logo depois deposita-lo no bico do filhote.


O filhote de Mergulhão caçador, ainda com a plumagem juvenil.

O filhote emite um pequeno som, como um sibilo, parece que esta dizendo para a mãe que esta com fome.


Logo em seguida a mãe mergulha e desaparece da vista. O filhote continua a emitir o "sibilo", como se estivesse informando a ela a sua localização.
Instantes depois a mãe reaparece e deposita o alimento dentro do bico de seu filhote.
O dia já estava ganho, mas faltava ainda o meu velho e querido Gavião-Caramujeiro.
E não demorou muito para que ele desse um verdadeiro show para as nossas lentes.

Gavião-caramujeiro (Rostrhamus sociabilis)
Em um voo inaugural, como se estivesse querendo reconhecer o terreno, ele passou a poucos metros do abrigo, tão perto que a teleobjetiva não conseguia focar.
Depois disto foram voos sucessivos, seguidos de mergulhos memoráveis e (claro) fotos incríveis.
Outras espécies de comportamento arisco, também deram as caras, chegando a distâncias muito pequenas.

Frango-d´agua - comum

Pato-do-Mato fêmea

Carão

Gavião-Caramujeiro

Capivara

Maria-Faceira

Uma Lontra chegou bem próximo de nós, mas não saiu fora da água em nenhum momento.
Saracura três-potes
Ainda tenho muito para aprender e explorar , sobre a experiência de se fotografar através de um Hide, mas até este momento achei o resultado fantástico.
Acredito ter conseguido realizar imagens muito boas, dentro do esperado pelas limitações de meu equipamento e por isto mesmo é que recomendo a todos que façam também as suas tentativas.

Deixo agora com vocês uma pequena galeria de imagens conseguidas nestas duas ocasiões aqui relatadas.
P.S. TODAS as imagens aqui publicadas foram feitas através do Hide.









sexta-feira, 27 de setembro de 2013

CURSO BÁSICO DE FOTOGRAFIA - PARA INICIANTES E AMADORES AVANÇADOS


No próximo sábado, dia 05 de outubro de 2013, estarei dando mais um Curso Básico de Fotografia, abordando os conceitos que ainda são a base da Fotografia, não importa se na versão Digital ou em Filme.
Em época de Photoshop e Lightroom, as pessoas acham que este conhecimento é ultrapassado, ou ainda inútil. Como estão enganados!
É claro que através destes incríveis softwares podemos, não apenas salvar, mas também dar vida nova a uma foto (muitas vezes) medíocre. Mas não dá para generalizar...

Foto feita com longa exposição (modo Bulb)
Conhecer as relações entre Abertura / Velocidade / Sensibilidade (ISO) são a chave para se conseguir imagens de qualidade e impacto, ficando para a edição digital apenas aquele "olhar do fotógrafo", ou seja, pequenas correções no Contraste, Brilho ou ainda, uma pequena correção na temperatura da Luz.
Pense nisto antes de gastar milhares de reais (ou dólares) em equipamentos de ponta, que você muito provavelmente nunca saberá usar em sua plenitude, além de investir outros milhares de reais em uma viagem fantástica, para depois voltar dizendo que "infelizmente" as fotos não ficaram legais!
Em um mundo consumista como o nosso, aquilo que verdadeiramente tem Valor acaba ficando relegado a um plano inferior em nossas vidas. O Conhecimento é uma destas coisas.
Fica o convite para quem quiser participar deste curso.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

FOTOGRAFANDO EM ALTA VELOCIDADE


Muita gente me pergunta sobre as fotos em alta velocidade, não apenas do objeto a ser fotografado, mas também da Velocidade do Obturador.
Por isso resolvi escrever algumas considerações pessoais, baseadas em experiências registradas nas mais diversas situações.
Splash realizado em estúdio, com gerador e 03 tochas - F:8 - 1/125 - ISO100
Mas com certeza já tem alguém pensando: Pronto, lá vem aquele cara falar (de novo) sobre como é difícil fotografar as aves, que elas são muito rápidas, que isto é para aqueles que gostam de fotografar pássaros, etc...
Sinto dizer que esta enganado!
A Fotografia em alta velocidade é comumente utilizada em nosso dia a dia, em muitos trabalhos fotográficos, sociais ou publicitários. Já vi fotos belíssimas de noivas jogando buquês ou sob uma chuva de pétalas, em que o fotografo conseguiu "congelar" a imagem perfeitamente, além é claro do famoso Splash, muito utilizado em publicidade.
Nos eventos cotidianos ou em viagens, esta técnica pode também render imagens fantásticas.

Nos passeios em família à praia sempre temos alguém que se sagra Campeão
 na categoria Open Pro-Master de Caixote.
É claro que para as fotos de Natureza, em especial as Aves, este tipo de conhecimento é imprescindível, afinal elas são muito rápidas, é muito difícil fotografa-las...rsrsrsrsrs.

Gavião de rabo branco
f:7,1 - 1/1600 - ISO 400 - Dist. Focal 247mm
Primeiro vamos lembrar um pouco daquela famosa relação básica entre Abertura  e Velocidade, a base de toda captura de imagem, ainda chamada de FOTOGRAFIA!
Quanto MENOR o Tempo em que o Obturador for permanecer aberto, MAIOR a quantidade de Luz que deverá entrar na câmera. Como o Tempo é marcado através de Fração de segundos (1/30 , 1/125 , 1/500 seg, etc...) quanto menor a fração, maior será a velocidade.
Já a Abertura é comumente chamada de "f " e é Inversamente proporcional, ou seja quanto Menor o numero de f, Maior é a Abertura, desta forma um f: 2,8 deixa entrar o dobro de Luz que um f: 5,6 e assim por diante.

Irerês - f:5 - 1/1000 seg - ISO 400 - Dist. Focal 300mm
Podemos então deduzir que para conseguirmos congelar a imagem de algo, movendo-se a uma grande Velocidade, iremos necessitar de uma Velocidade de Obturador alta, e de uma grande quantidade de luz. Mas nem sempre isto esta disponível, as vezes a iluminação natural é demasiada fraca ou então estamos fotografando a noite. E agora, o que fazer?

Coruja da Igreja / Suindara (Tyto Alba)
f: 2,8 - 1/60 seg - ISO 1600 - 300mm + Flash
Nestes casos uma Lente com uma boa Abertura (f:2,8 , f:2, f:1,8) são bem vindas, mas podemos também compensar a falta de Luz aumentando a Sensibilidade da Câmera (ISO) ou ainda usando um Flash acoplado a mesma.
Vale lembrar que o aumento do ISO traz inevitavelmente a presença de ruídos a imagem - aqueles pequenos pontos coloridos - mas isto pode ser minimizado, habilitando-se a função "Redução de ruídos em ISO elevados", existentes em diversos modelos de câmeras, provavelmente com nomenclaturas um pouco diferentes. Existem ainda filtros que podem ser aplicados no Câmera RAW e que reduzem consideravelmente este problema.
Agora de posse destas preciosas informações você pode analisar a situação e ver qual combinação usar.

Estrelinha - Ametista
f:6,3 - 1/1250seg - ISO 400 - 300mm
Também ajuda muito estar usando um tripé, com uma cabeça que permita movimentos rápidos e precisos, afinal segurar uma lente pesada como uma Teleobjetiva, com uma Velocidade de 1/1250 seg, sem tremer, é  tarefa para poucos privilegiados. Se bem que das fotos mostradas até aqui, somente esta do Beija-flor foi feita com tripé, as demais foram feitas no braço mesmo, coisa de macho!!!!!
Uma dica legal que aprendi com um Amigo cinegrafista é de na hora da foto, encher o peito de ar e segurar a respiração durante a tomada das imagens. Se a câmera dispor de Disparo Sequencial , coloque em H (high) e segure o dedo!

Garça
 f: 5,6 - 1/800 seg - ISO 200 - 300mm
Uma boa cabeça de tripé ajuda também a seguir o movimento do objeto, quando este move-se em uma linha definida , como esta Garça que possui um voo calmo e constante, muito fácil de ser fotografado.
Precisamos ainda falar um pouco sobre o Flash. Devido a grande quantidade de Luz emitida por este equipamento e pela pequena duração do "relâmpago" , podemos usar velocidades de Sincronismo relativamente altas (1/125 , 1/250) e literalmente congelar o movimento do objeto. Existem profissionais de várias áreas que hoje realizam verdadeiras obras de arte, usando apenas os Flashes dedicados, posicionados de forma estratégica e com o auxílio de disparadores a rádio, conseguindo com isto imagens nunca antes vistas.
Quando comecei a testar fotos com alta velocidade, usava flashes e geradores de estúdio, para realizar imagens de Splash principalmente. A algum tempo tive a oportunidade de testar estes equipamentos em fotos de Beija-flores, com o uso de diversas tochas e alguns acessórios de estúdio (Sombrinhas, Hazys e Colméias). O resultado foi bem animador, mas esbarra na necessidade de energia elétrica próxima e também na fragilidade destes equipamentos em ambientes externos, principalmente na questão da umidade.



Fotos feitas com Gerador 1200 , 03 tochas, sendo duas com Hazy-light e uma com Colméia.
f: 8 - 1/200 seg - ISO 100 - 300mm

Ainda preciso fazer alguns testes com os Speedlights disparados por Flash Triggers e ver qual resultado fornecem.
Por último quero citar que - salvo nas fotos em estúdio, com Flashes e Geradores -, nestas situações, quase nunca trabalho com a câmera em M (Manual), prefiro trabalhar com Prioridade de Abertura, quando as condições de luz estão um pouco complicadas (muita luz ou ambiente pouco iluminado, como o interior de matas) ou então com Prioridade de Velocidade, quando tenho tempo antes em saber qual espécie ou objeto será fotografado e como se comporta em relação a velocidade.
Finalizando este post quero então fazer um pequeno resumo do que foi falado, ou seja, para fotos em alta velocidade são necessários uma Velocidade do Obturador alta, uma boa quantidade de Luz, proveniente de uma boa fonte de Luz natural, ou ainda conseguida pelo aumento da Sensibilidade (ISO),ou pelo uso de um Flash.
Um Tripé com uma boa cabeça ajudam muito e faltou ainda um ingrediente indispensável, um OLHAR apurado!
Espero que gostem e que seja útil.

Biguá
f: 5,6 - 1/320 seg - ISO 200 - 300mm
Gavião-Caramujeiro
f:5,6 - 1/400 seg - ISO 200 - 300mm
Bico reto de banda branca
f:5,6 - 1/1000 - ISO 400 - 300mm
Mocho dos banhados
f:5,6 - 1/1250 seg - ISO 1000 - 300mm