Tietinga (Cissopis leverianus) - presença obrigatória nos comedouros |
Vamos começar esclarecendo algo muito importante sobre o clima local, afinal as pessoas podem se desanimar ou até se frustrar com o fato de que lá chove bastante (e chove mesmo!), mas este tipo de floresta é conhecida em inglês como "rainforest" ou na tradução literal "floresta chuvosa" e é exatamente isto que dá ao local suas características únicas de Flora e Fauna, portanto vá para lá sabendo que chover no local é NORMAL!
Uma fina garoa contrasta com o verde das matas, criando uma constelação de estrelas na frágil Teia da Aranha. |
Minúsculas flores que abrigam um Universo de detalhes |
Cuidado onde senta... |
Espécie de Orquídea nativa do local |
Bromélias são presença constante em todas as trilhas e nos arredores da pousada |
A proposta desta viagem surgiu como a primeira atividade oficial do GRIFOO para o ano de 2013 e sua aceitação foi unanime no grupo, afinal haviamos visitado o local em julho de 2012 e mesmo fazendo apenas um day-use, com chuva e frio que nos obrigaram a permanecer nos comedouros apenas, tivemos uma experiência que marcou a todos.
Você já viu um comedouro como este? |
Ouso até afirmar que a contratação de um guia é algo imprescindível! Pois por conhecer as trilhas e as espécies que ali habitam ou frequentam, as chances de avistamento de aves relativamente raras é muito maior.
Da esquerda para a direita - Dú Nyari, eu, Octavio,Elvio (sentado), Ubaldo,Gustavo e Danilo |
Combinamos com o Chico e com o Octávio que chegariamos na sexta-feira por volta de 15hs e que já estariam nos aguardando no estacionamento da reserva com a mega-blaster-super Veraneio 4x4 para o transporte das malas e equipos., além de alguém que porventura não quisesse fazer o trajeto até a sede a pé.Mas todo mundo optou pela descida caminhando e lá foi o Chico com as malas - e preciso aqui fazer uma nota sobre isto - vocês precisavam ver a mala do Elvio!
Ou ele iria ficar lá por uns 45 dias ou então estava levando algum hospede clandestino lá dentro...
O fim de semana já começou com boas risadas!
A mala para viagens internacionais... Foto:Dú Nyari |
Ainda não estava chovendo neste dia e pudemos fazer o percurso sem grandes problemas - menos o Dú Nyari que levou uns 47 escorregões e sagrou-se campeão nacional de ski-bunda, modalidade barranco escorregadio!
Chegando na pousada, cada um escolheu o seu quarto ficando 02 pessoas em cada um.Recebemos as recomendações básicas sobre estar hospedado na floresta ( anfíbios e aranhas são comuns, portanto mantenham as portas fechadas) e você acaba tendo a 1ª constatação de que esta em um local totalmente preservado e distante da "civilização" quando começa a procurar pelo interruptor para acender a lampada do quarto, mas o que você encontra é um candelabro de parede com...UMA VELA!
O quarto é bem simples, rústico até, mas as camas são muito confortáveis, lençóis limpos e perfumados (interessante que não tem aquele cheiro de mofo, característico de locais muito úmidos), um banheiro com uma ducha fortíssima, usando aquecedor a gás e só! Não precisa de mais nada!
No item banho tenho um comentário importante para fazer! A água é muito forte, com boa pressão e ao ligar a água quente você apanha um pouco até equilibrar a temperatura da mesma.Logo de cara já tive uma experiência traumática, pois estava frio e a água pelando de quente, sendo que fiquei fora do chuveiro aguardando que a mesma esfriasse.Neste momento bate aquela rajada de vento e aquela "mardita" cortina do Box gruda em minha região posterior...e tava mais gelada que coxinha de rodoviária! Resultado: pulei na água que estava queimando e voltei pra cortina gelada e grudando na buzanfa...uma cena ridícula.Ainda bem que ninguém estava vendo.
Bom...mas voltando a nossa chegada, equipamentos em mãos e corremos para os comedouros, afinal já estava um pouco tarde e não daria para fazer nenhuma trilha, talvez algo nas imediações da sede e uma corujada ao anoitecer.
Ubaldo e Danilo - montagem dos equipamentos |
O "novato" Elvio, sempre querendo aprender mais. |
Ubaldo em sua pose característica com os óculos na boca - marca registrada- e o Gustavo logo atrás na conferencia. |
A visão de um comedouro |
Momentos de tensão! Guerrilheiros das Farcs ameaçavam executar este fotografo caso as "Tia da cozinha não liberassem a bóia". Foto: Dú Nyari |
Saímos então para corujar nas imediações da pousada, em busca da Corujinha-Sapo, do Caburé-miudinho e da Murucututu de bariga amarela, mas apenas esta última respondeu ao play-back, respondeu mas não deu as caras...
Voltamos a sede e mesmo com os protestos de alguns marmanjos que não se conformavam em perder a novela, ficamos sentados sob um céu que se alternava entre estrelado e nublado, conversando e contando histórias, rindo e se conhecendo melhor, fortalecendo laços e criando novos amigos.
Todo mundo cansado e vamos nos recolher imersos em um Silêncio fantástico - bom...não no meu caso, pois no meu quarto tinha uma motoserra ligada durante toda a noite!Pensei até em dormir lá fora, mas resolvi não participar da sessão de acupuntura com os milhares de pernilongos do local.
DIA 23 DE MARÇO - MUITA CHUVA
O dia amanheceu completamente diferente, com uma garoa constante e uma neblina leve cobrindo os morros que nos cercavam.Após um lauto café da manhã, ficamos em um dos comedouros aguardando alguma melhora no tempo, afinal tínhamos conosco um OTIMISTA nível pró-master, o Gustavo, que esperava ansiosamente pela chegada do Sol para que pudesse usar o seu protetor solar.
Não demorou muito para que diversas espécies de aves começassem a chegar e a garantir belíssimos registros.
Saíra-militar (Tangara cyanocephala) - verdadeiros bandos chegam nos comedouros |
Benedito-de-testa-amarela (Melanerpes flavifrons) |
Quando a chuva dava uma pequena trégua o Octávio - sempre atento ao menor ruído vindo da mata que nos cercava - soltava um play-back e logo tínhamos também alguma espécie que não frequenta os comedouros, mas que chegava bem perto, em locais tão abertos que ninguém acreditava.
Tangarazinho(Ilicura militaris) - chegou a poucos metros do comedouro |
Ficamos por alí até a hora do almoço e após uma nova e deliciosa refeição aproveitamos a pequena trégua na chuva e resolvemos fazer uma trilha curta, em busca principalmente da Maria-leque-do-Sudeste.
Todo mundo fotografando, menos o Dú que emprestou a câmera pro Octávio nos fotografar |
Infelizmente não tivemos muita sorte em encontra-la e na volta acabamos criando uma nova modalidade audio-visual para atrair aves, fizemos uma fusão entre cosplay e playback, ou seja eu me disfarçaria de Maria-leque-do-sudeste e o Gustavo faria o som...cantando a tal da "música" lek-lek-lek!!!
Neste instante pude ver através do olhar triste do nosso competente guia o seguinte pensamento:" O que eu estou fazendo aqui com estes caras???"
Eu fazendo "cosplay" enquanto o Gustavo cantava o tal do "Lek-lek-lek". Acabou ficando como o registro de uma nova espécie, o "Mario -leque-do-Nordeste". Foto: Dú Nyari |
A chuva não parou mais e desta forma não pudemos tentar uma nova corujada, ficando apenas em mais uma animada conversa a luz dos lampiões.
Em determinado momento a conversa estava até que em um bom nível, quando inesperadamente o nosso amigo Gustavo solta a perola de que vem da cidade de Santa Barbara D´Oeste, local onde "chove peixes".
Aquele momento de silêncio profundo e alguém resolve confirmar se é isto mesmo que ele disse...e ele confirma!!! Disse que saiu em todos os jornais e noticiários locais que um avião de carga havia deixado escapar parte de uma carga de Sardinhas e Cavalinhas congeladas e que estas haviam caído em cima de casas e pessoas em um bairro daquela cidade. Bom...teve gente que caiu sentado de tanto rir e começaram as "estórias" mais absurdas possíveis.
A esta altura eu já podia ver também a cara do Chico pensando:" O que eu estou fazendo aqui com estes caras?"
Se alguém quiser saber o que REALMENTE ocorreu clique aqui e veja a matéria divulgada.
DIA 24 DE MARÇO - O FINAL DA AVENTURA
Após mais uma noite tentando dormir com uma serraria inteira dormindo na cama ao lado, acordamos com o tempo um pouco melhor, embora ainda nublado parecia que a chuva iria parar e alguns pedaços de céu azul já podiam ser vistos entre as nuvens.Tomamos o nosso café da manhã rapidamente e logo partimos para a Trilha do Passarinheiro onde o Octávio iria também aproveitar para inspecionar a armadilha fotográfica instalada no local, a poucos metros de uma arvore com várias marcas de garras de uma onça parda, assídua frequentadora do local.
A arvore com as marcas de garras da Onça parda. Foto Dú Nyari |
A trilha estava um pouco escorregadia - devido as chuvas constantes - para ser percorrida com um tripé nas costas, além de uma teleobjetiva que já pesava 36 quilos a esta altura, portanto não me importei muito em conseguir fotografar todas as espécies que cruzaram o nosso caminho(assim que possível vou comprar uma 100/400mm para estas ocasiões).
A foto oficial do grupo em plena trilha. Foto: Octavio C. Salles, com a câmera do Dú Nyari |
Cuspidor de mascara preta fêmea (Conopophaga melanops) |
Samambaias em P/B |
Danilo Castilho |
Gustavo Pinto |
Dú Nyari |
De volta a sede resolvemos aproveitar que ainda não estava chovendo e fomos até a ponte sobre o rio Tangará, logo na entrada do parque.Novamente fomos surpreendidos por varias espécies que assim como nós pareciam estar aproveitando ao máximo a parada na chuva.
Dú Nyari - foto: Danilo Castilho |
Ubaldo - foto: Danilo Castilho |
Elvio - foto: Danilo Castilho |
Folhagens e flores podem ser vistos em todo o caminho |
Surucuá-de barriga-amarela (Trogon rufus) |
Tangará dançarino (Chiroxiphia caudata) |
Portal do parque - da esq. para a direita: Danilo, Octávio, Dú, Elvio, Ubaldo, Pompeo e Gustavo |
Saíra-militar(Tangara cyanocephala) |
Saíra Sete-cores (Tangara seledon) e Saíra-militar (Tangara cyanocephala) |
Tietinga (Cissopis leverianus) |
Tietinga (Cissopis leverianus) |
Guaxe (Cacicus haemorrhous) |
Gaturamo-verdadeiro (Euphonia violacea) |
Tiribas de testa vermelha (Pyrrhura frontalis) - um show da Natureza |
Alguns disseram que preferiam subir a pé pois ainda tinham muita energia para queimar, outros alegaram razões fratulênticas para não entrar no veículo e outros ainda admitiram estar apavorados com a ideia e desta forma fomos apenas eu, Elvio e o Octávio juntos com o Chico e muitas malas (inclusive a do Elvio que ocupava 43,6 % do espaço interno da Veraneio.
Ubaldo e Gustavo na subida até o estacionamento. Foto:Dú Nyari |
A subida triunfal - reparem nas mãos do Elvio e do Octávio agarradas ao veículo, eu não precisei disto pois estava soterrado por malas e equipamentos. Foto: Danilo Castilho |
E o parque do Zizo é um local ideal para isto!
Que maravilha Pompeu e que privilégio poder estar junto nesta aventura fotográfica na natureza tão plena quanto a que vivenciamos no parque do Zizo. Um show !
ResponderExcluirDú Nyari
Beleza Dú, faço minhas as suas palavras...um Privilégio!
ResponderExcluirAdorei o relato, muito bem humorado, não deixando dúvida de quanto o Parque do Zizo é bom. Parabéns!
ResponderExcluirQue post legal.
ResponderExcluirE que turma boa.
Conheço o parque e o Ubaldo. Ambos sensacionais.
Abraços.
Nunca vi um relato nâo institucional tão detalhista e bem feito como este. Parabéns! Era para eu estar com vocês, mas tive outro compromisso. Abraços e parabéns pelo Blog.
ResponderExcluirMuinto Legal o relato, divertido e bem humorado, começarei meu dia num bom astral, obrigado!!!
ResponderExcluirMarcelo Balboni
Olá Pompeo!!
ResponderExcluirDemorei para chegar mas cheguei!!
Ri muito com seu relato, para variar e as fotos estão espetaculares (para variar mais um pouco). Depois dizem que só as mulheres é que levam muita bagagem!!!
Estivemos no Pq. do Zizo mas fizemos só um Day Use também. Imagino que ter se hospedado lá deve dar uma dimensão totalmente diferente. No nosso post da nossa visita também escrevi sobre o silêncio do lugar. É algo literalmente que a gente não consegue escutar em outros lugares (o silêncio absoluto e total!). E a comida... ah!! só almoçamos mas já deu uma amostra do estrago que deve ser...
Um grande abraço!
Marcia