quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

FOTOGRAFANDO CORUJAS - NOVIDADES NO EQUIPAMENTO

ATUALIZAÇÃO DO " LIGHT OWL SEGURATOR"


Coruja Suindara (Tyto alba) - foto realizada a uma distância de 6 metros com Canon 7D - lente 300mm
 e flash Canon EX 540
No post publicado anteriormente sobre a construção do suporte para iluminação destinado a ser usado em fotos noturnas- principalmente para fotos de Corujas - citei que utilizo uma lanterna tática (ou policial) de grande potencia, apesar do tamanho reduzido e que isto é de grande valia nestas ocasiões devido ao pequeno peso e a grande quantidade de luz gerada, facilitando muito o autofoco pela câmera.
Mas na prática surgiu um problema devido a esta potencia gerada...os animais acabavam se assustando com o faixo emitido e voavam rapidamente.
Enquanto buscava uma alternativa para o problema acabei assistindo a um programa na NatGeo com o cinegrafista de natureza Lawrence Wahba em que ele descreve a técnica usada na captação de imagens noturnas e era muito simples!
Os animais eram iluminados com potentes lanternas revestidas com uma gelatina vermelha - do tipo usado em iluminação cênica - e desta forma os animais não estranhavam a luz vermelha gerada, e no caso da filmagem bastava apenas que calibrassem o White-Balance das câmeras para esta cor, conseguindo assim imagens belíssimas sem o uso de equipamentos caríssimos de visão noturna.
Achei a ideia muito interessante e fácil de fazer, primeiro pensei em usar um antigo filtro Red que possuía aqui, prendendo o mesmo na frente da lanterna, mas como o diâmetro do mesmo era maior que o da lanterna (50mm) achei que ficaria muito difícil a mobilidade em campo, correndo sempre o risco de enroscar em alguma coisa- principalmente no escuro.
Analisando a construção da lanterna que uso, descobri que a frente da mesma podia ser desmontada e a lente  podia ser removida...daí a coisa ficou fácil, pois bastava então conseguir um pequeno círculo de material transparente na cor vermelha e inseri-lo entre a lampada e a lente.Consegui isto usando um pequeno pedaço de capa de PVC, utilizada para encadernações com espiral, portanto você deve encontrar fácil e qualquer empresa que faça serviços de encadernação.
Vejam um passo a passo ilustrado de como fazer a adaptação:

Recorte o PVC com uma tesoura - CUIDADO - crianças não devem fazer isto
sem a supervisão de um adulto responsável...rsrsrsrsrss!

Insira o PVC sobre a lampada

Recoloque a lente

Feche com o anel roscado frontal

Monte novamente o seu "Light Owl Segurator"

Pronto para o uso
Faltava agora testar o equipamento em campo e achei melhor faze-lo nas mesmas condições em que testei anteriormente e neste caso devia tentar fotografar novamente a Suindara.
Como já sabia o local onde ela costumava estar ( uma pequena estrada na área rural em Araçoiaba da Serra) e eu iria passar por lá nos próximos dias, resolvi aguardar e torcer para a coruja ainda estar naquela região.
Voltamos para lá e cheguamos ao local por volta de 21 hs e pela falta de iluminação pública já estava bem escuro.Seguimos com o veículo bem devagar e pude ver a Suindara e o seu contorno em um mourão a uns 50 mts. de onde estávamos, apagamos os faróis e liguei o "Light Owl Segurator", aproximando-nos muito devagar.
Chegamos a uma distancia de uns 2 metros e permaneci dentro do veículo mas com a lanterna iluminando diretamente a coruja...e foi INCRÍVEL! Ela parecia não se incomodar com aquela luz diretamente apontada para ela, tanto que fiz a primeira foto sem o flash, apenas com a luz emitida pela lanterna.A correção do WB fiz posteriormente no Adobe Camera Raw.

Suindara (Tyto alba) fotografada a 2 metros de distancia, sem flash.
Para evitar trepidação na foto usei prioridade de tempo, trabalhando com 1/30s e ISO 500.
Nesta distancia e com uma lente 300mm na 7D (equivalendo a 480mm) não conseguia enquadrar a coruja totalmente e resolvemos mudar o veículo de posição, ainda com os faróis desligados levamos o carro ao outro lado da rua e agora com o uso do flash fiz diversas fotos, incluindo a imagem que faz a abertura deste post.
Não testei o aparato em outros animais e ainda não sei qual será a reação destes, mas no caso da coruja foi algo realmente surpreendente de se ver.
E fica provado com isto que ainda existe Vida Inteligente na TV, pelo menos em alguns canais por assinatura.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

CHAPADA DOS GUIMARÃES - DO MACRO AO MICRO COSMO

Vista panorâmica em 180 graus da Chapada dos Guimarães
Para ver a imagem em alta resolução click aqui para fazer o download
Escolhi esta imagem panorâmica da Chapada para iniciar este post pois ela nos dá uma pequena noção de nossa dimensão diante da grandiosidade desta nossa casa, a quem chamamos de Terra e que tão gentilmente nos acolhe.
Quando chegamos a um local como este e temos o privilégio de admirar tamanha beleza é natural que algo dentro de nós comece a se inquietar - parece que nosso cérebro tem dificuldade em processar tal informação - afinal em nossa arrogância  natural, presumimos ser o "centro de todas as coisas" e frente a isto tudo vemos que somos minúsculos seres, provavelmente células componentes de um organismo maior, vivo e em transformação constante.
Neste instante em especial, pudemos ver ao nosso lado esquerdo o Sol iluminando as montanhas, emolduradas pelo céu límpido e a nossa direita uma enorme massa de nuvens despejando uma chuva torrencial sobre uma grande área - forte a ponto de não podermos definir o que havia naquela região - e novamente dando lugar ao mesmo Sol sobre o mirante.
Para se ter uma noção das distancias contidas, esta massa de chuva demorou quase 50 min para chegar ao ponto onde estávamos e cobriu toda a área ao redor do mirante e do centro da cidade com suas águas.
Apreciem tamanha Grandiosidade!

5º DIA - A CHAPADA DOS GUIMARÃES

Hora de carregar as bagagens, despedir-se do Pantanal e seguir viagem!
Foto: Marcelo

Saímos bem cedo de Poconé em direção  a Chapada do Guimarães, mas acabamos demorando muito para conseguir cruzar  a cidade de Cuiabá, devido a uma infinidade de obras pela principal avenida que nos levaria ao nosso destino, conclusão...chegamos ao local por volta de 11 horas da manhã, com um Sol escaldante em nossas cabeças.


Nossa 1ª parada foi na cachoeira Véu da Noiva, um complexo administrado pelo ICMBio, onde você percorre uma trilha de 500 mts sobre uma plataforma de madeira, chegando a um pequeno mirante do qual é possível ver e admirar a queda d`água de 86 metros que empresta o seu nome ao local.


Na trilha pudemos encontrar uma vegetação típica do Cerrado e a poucos metros da portaria o Peterson ouviu o som de uma ave escondida entre os arbustos.Com o auxílio de seu inseparável gravador conseguiu gravar o mesmo e reproduzi-lo em seguida.Em poucos instantes o autor da música se aproximou para que pudéssemos fotografa-lo...tratava-se de um Tapaculo de colarinho (Melanopareia torquata).

Tapaculo de colarinho (Melanopareia torquata)
Outras aves surgiram mas como não podíamos sair da trilha demarcada ficou difícil se aproximar para o registro fotográfico.
No final da trilha nos rendemos a beleza de mais uma manifestação grandiosa da natureza...a cachoeira Véu da Noiva!


Infelizmente a maior parte das trilhas que nos levariam mais perto da cachoeira só poderiam ser feitas com a contratação de guia local especializado.Outras estavam interditadas pelo ICMBio, mas segundo um guia que ficou nos seguindo e insistindo que com um "jeitinho" dele e um intere$$e nosso conseguiríamos, mas como não aprovamos este tipo de conduta, recusamos polidamente a oferta.
A Chapada dos Guimarães é frequentada por pesquisadores mas também por místicos que acreditam ser este local um ponto de confluência de energias poderosas. Para eles o encontro de tais energias cria Portais Dimensionais que já eram conhecidos por civilizações antigas.
Não sei se isto é verdade mas posso afirmar que se ficarmos por um bom tempo admirando o encontro das águas que despencam da cachoeira com as águas do lago,e que resultam em uma fina bruma que por sua vez, reflete a luz do Sol e acaba por criar um caleidoscópio de cores hipnotizantes, qualquer um "viaja" para outra dimensão.
Mas voltando a nossa dimensão...ficamos pouco tempo alí pois ainda faltava encontrar o nosso 3º mega - lifer de nossa viagem,estou falando de Udú de coroa azul e o local para onde iríamos era o Vale da Benção.

O VALE DA BENÇÃO-OU SERIA DA SORTE?

Seguimos as indicações para o local - e não tínhamos a menor ideia de como era - chegando a uma pequena entrada junto a rodovia.Seguimos por algumas centenas de metros ladeados por terras recem aradas até chegarmos a uma área com uma mata bem fechada- na verdade um pequeno bolsão - cortado apenas pela pequena estrada de terra que despencava subitamente em uma ladeira íngreme, escorregadia e por onde só passaria um veículo de cada vez.Neste ponto o Peterson me alertou - talvez já sentindo a minha ansiedade - que o nosso "alvo" era muito arisco, não respondia a play-back e as nossas chances eram pequenas.
Bom...mas em um lugar com este nome e com a nossa Sorte nos acompanhando?
E após termos percorrido poucos metros da já citada ladeira o Peterson freia o carro bruscamente e grita:    
"Olha o Udú alí!!!"
Nesta altura nem eu acreditei, achei que estava de sacanagem comigo, mas comecei a considerar a possibilidade de ser verdade quando ele saiu correndo do carro com a câmera nas mãos.
E era verdade mesmo! A poucos metros de nós, pousado calmamente em um galho as margens da estrada estava o nosso tão desejado 3º mega-lifer, o Udú de coroa azul.

Udú de coroa azul (Momotus momota)
Carregava em seu bico um suculento inseto mas não se dispunha a come-lo, mudou de galho algumas vezes e ainda assim não engolia o inseto, ficando o tempo todo a nos observar.Por este comportamento presumimos que estava na verdade levando o alimento para seu ninho e esperava que saíssemos dali para que não denunciasse o paradeiro do mesmo.
Neste momento aconteceu aquilo que temíamos, um veículo chega por trás de nós e não consegue passar, obrigando-nos a entrar no carro e seguir adiante até que encontrássemos algum ponto que permitisse a ultrapassagem.
Mais algumas fotos para garantir e seguimos adiante sem poder acreditar na Sorte que tivemos novamente, neste local abençoado.


Vou admitir que deste momento em diante não queria mais nada, mas seguimos em frente e conseguimos mais alguns registros ainda. Passamos por mais alguns locais mas nada de especial foi encontrado.

Canario do Campo

Resolvemos então seguir até o centro da cidade para podermos almoçar e encontramos um local com diversas opções gastronômicas.Pensei em experimentar a especialidade local, a tal de "Maria Isabel", mas não me senti bem com ideia de come-la e resolvemos optar pelo Restaurante Comida Popular, um pequeno estabelecimento com sistema self-service e preço único.Bem servido, vale a pena!
Seguimos em direção ao Mirante do Centro Geodésico onde realizei a foto panorâmica , o Peterson desceu pela encosta do platô para fotografar um bando de andorinhões e o Marcelo resolveu explorar a extremidade oposta do platô.

Peterson voltando ofegante da escalada triunfal.
Vendo que a massa de chuva se aproximava de nós resolvemos voltar a segurança da cidade, para garimparmos alguns souvenires e tomarmos o famoso sorvete do Mazinho, um patrimônio local.Uma pequena sorveteria que serve picolés e sorvetes de massa, com sabores de frutas típicas do cerrado, como Açai, Cupuaçu e outros nomes que não consigo lembrar agora, mas que ficarão em minha memória degustativa para sempre.

Peterson, Marcelo e eu na foto de despedida no mirante.

O MICRO - COSMO

É normal quando estamos em locais de tamanha grandiosidade que nos esqueçamos de olhar para baixo, para as pequenas coisas que nos rodeiam e acabamos por perder as oportunidades de conhecer um novo universo.
Mas se seguirmos a mesma ideia usada no início desta postagem e pensarmos em tudo como pequenas células de um organismo maior, poderemos começar a voltar a nossa atenção para coisas cada vez menores em tamanho mas de complexidade impressionante.
Comecei então a observar o nosso caminho, por onde nosso veículo passava, nos arbustos em que esbarrava,buscando por imagens deste novo universo.E encontrei varias...





Apreciem esta grandiosidade sem tamanho.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

PANTANAL DE MATO GROSSO - EM BUSCA DO URUTAU GIGANTE

Surucuá de barriga vermelha

Faltavam ainda dois dias no Pantanal antes de partirmos para a Chapada dos Guimarães e embora já tivéssemos registrado dezenas de espécies faltavam ainda os 3 lifers mega desejados nesta viagem.
Nosso próximo destino era promissor, afinal neste local haviam sido registrados 2 deles.Estamos falando da Jacurutu e do Urutau Gigante e o local era a Pousada Piuval...

3º DIA - A POUSADA PIUVAL


Maracanã de colar


Da mesma forma que nos outros locais visitados, saindo da Transpantaneira após a placa de entrada da Fazenda Piuval, segue-se por 2km em uma pequena via de acesso até a sede do local e neste pequeno percurso pudemos avistar diversas espécies de aves, parando sempre para fotografa-las.
Logo no inicio fomos contemplados com a visão de Maracanãs de Colar, Tico-tico rei, Falcão de Coleira e outros Gaviões que não soubemos identificar.

Falcão de coleira

Chegando ao receptivo do local encontramos uma estrutura turística bem montada e com um padrão de atendimento um pouco acima de nossas necessidades e expectativas.Após nos identificarmos a recepcionista - havíamos feito a reserva por e-mail antecipadamente-  pretendíamos cumprir com as formalidades exigidas rapidamente e seguir logo para as trilhas em busca de novas espécies e dos tão desejados mega-lifers ali encontrados anteriormente pelo amigo Luciano Monferrari.
Infelizmente as coisas não ocorreram como esperávamos pois a a atendente nos informou que não poderíamos circular pelas trilhas sem a companhia de um guia do local e que só haviam nos agendado para sairmos com este guia a partir das 10hs, devendo retornar ao local até as 11:30 hs.
Como tais informações NÃO haviam sido descritas na resposta dada pela Pousada, pela ocasião de nossa reserva - descrevi detalhadamente nossa intenção em conhece-los e qual a nossa meta - sendo descrito que em nossa reserva de Day-Use ESTAVAM INCLUSOS visita ao local, almoço e caminhada pelas trilhas, além de uma saída acompanhado  por guia local, protestamos junto a atendente e foi-nos autorizado caminharmos pelas redondezas da Pousada e voltarmos as 10hs para sairmos com o guia.
Seguimos por uma pequena passarela junto ao pasto  que faz fundo a piscina e começávamos a cogitar a possibilidade de cancelar a diária e voltar a Transpantaneira quando uma pick-up nos alcançou trazendo até nós o tal guia, que acabara de ter sua saída com alguns hospedes cancelada, portanto antecipariam o nosso passeio.
Voltamos a recepção e deixei claro a atendente - neste momento haviam substituído a anterior-  nossa intenção de deixar o local, caso não pudéssemos circular livremente pelas trilhas.Após um breve momento de tensão chegamos ao acordo de que iriamos com o guia para conhecermos os principais pontos do local, voltaríamos para almoçar e após o almoço poderíamos circular pela fazenda, mas em nosso carro.
Nosso guia era o Benedito, um pantaneiro que nasceu e viveu toda a sua vida no local, por isso mesmo profundo conhecedor da região e dos hábitos de seus "moradores" ilustres.Ele nos falou muito sobre a Fazenda, a fauna e a flora e sobre os ciclos do Pantanal, em uma belíssima aula de "biologia popular".
Levou-nos ao ninho das Araras-Azuis mas ao chegarmos ao local encontramos outro guia acompanhado de alguns norte-americanos e elas (as araras) pareciam já estar incomodadas com o movimento, portanto conseguimos poucas fotos delas, antes de voarem para a mata fechada.

Arara-azul grande na porta do ninho.Esta abertura
ficava a uns 10 mts do chão.
O casal de Arara azul grande

Em seguida o Benedito nos levou até as margens de um pequeno rio que passa pela propriedade e pudemos avistar imediatamente algumas espécies que por ali se encontravam, além de alguns Iguanas descansando na copa de uma arvore, na margem oposta do rio.Pudemos também ver alguns rastros que saiam da margem do rio e entravam mata adentro.Pelas marcas e algumas pegadas no local poderia ter sido uma onça que capturou e arrastou um jacaré pela areia, até desaparecer pela mata.Infelizmente não pudemos comprovar isto!

Andorinha do rio

Iguana

Araçari - castanho


Em seguida nosso guia começou a imitar um Caburé com uma perfeição incrível e o resultado foi instantâneo!Um casal de Arirambas de Cauda Ruiva se aproximaram e tentaram muito encontrar o invasor.

Ariramba de cauda ruiva

Chora-chuva  preto

Partimos então para uma nova área da Fazenda onde anteriormente havia sido avistada a Jacurutu, mas não a encontramos.Fomos presenteados com a visão maravilhosa de uma família de macacos Bugio.
Enquanto nos concentrávamos em fotografar o filhote e sua mãe, não nos atentamos para  a localização do macho e isto quase foi um grave erro...pois o mesmo se encontrava acima de nossas cabeças e por muito pouco não fomos atingidos por uma artilharia pesada de fezes e urina- acredito que fazia isto para nos afastar da família.


Filhote de macaco Bugio pousando para as fotos juntamente com a mãe- sempre atenta.

O pai zeloso que quase nos "bombardeou".
Observem as larvas enormes na madeira, logo abaixo dele.

Mais algumas aves foram encontradas- um casal de Choró-boi parecia estar nos seguindo- e voltamos para a sede da pousada, desejando almoçar logo e voltar rapidamente as trilhas.

Choró-boi macho

O almoço servido foi muito gostoso mas ainda assim um pouco simples para os padrões do local.E nesta parte tenho também que expressar nosso sentimento sobre o mesmo, pois ficou muito claro para nós a predileção aos turistas estrangeiros- ou mesmo para aqueles que se hospedam- por parte da maioria das pousadas da região.Acho muito mais correto que se posicionem e - a exemplo da Pouso Alegre- admitam não ter interesse ou mesmo não aceitarem Day-use.Os valores praticados pelas pousadas da região são para mim extremamente altos para os padrões de conforto e alimentação que pudemos conhecer, tornando-se assim interessantes apenas para turistas estrangeiros e uns poucos afortunados das terras tupiniquins.
Mas se abrem a opção de day-use acredito que devam dispensar o mesmo atendimento e atenção oferecidos aos hospedes, afinal estamos pagando também.
Para nós a experiência vivida não nos motivou a indicar a opção de day-use a ninguém que pretenda conhecer a região, sendo muito mais produtivo se concentrar na Transpantaneira e em alguns locais anexos a mesma,mas com entrada livre.
Após o almoço acabamos conhecendo uma simpática família de Santa Catarina que visitava sua filha- uma jovem jornalista em Cuiabá- e nos envolvemos em uma boa conversa e troca de experiências, seguidas por uma chuva rápida que acabou minando a nossa determinação em voltar a mata.
Vencido o torpor resolvemos arriscar mais uma tentativa de encontrar o Urutau gigante seguindo as informações dadas pelo guia Benedito...e que besteira fizemos!
Mesmo saindo de carro e seguindo o trajeto feito pela manhã, acabamos não encontrando as referências dadas e chegamos até a nos sentir perdidos pela fazenda.Sorte que conseguimos avistar uma das torres de observação do local e por ali nos guiamos na volta.Voltamos a sede cansados e frustrados, afinal nada ainda da Jacurutu e do Urutau gigante e o proximo dia seria o nosso último dia no Pantanal.

Arapaçu do serrado - fotografado em seu ninho, bem em frente ao estacionamento
da pousada.

Iraúna grande

Quati

Gavião - caboclo juvenil, se banqueteando com um anfíbio.

No caminho de volta a nossa pousada conseguimos ainda algumas fotos interessantes, mas tenho que admitir
que nossa moral estava bem baixa.Cogitamos até a possibilidade de anteciparmos nossa ida a Chapada dos Guimarães, trocando nosso último dia no pantanal por um dia a mais neste local.Ainda bem que não fizemos isto...

4º DIA - A SORTE FOI NOSSA COMPANHEIRA

Seria injusto reclamarmos de nossa boa sorte nesta viagem afinal conseguimos em poucos dias, sem o auxílio de um guia ornitológico experiente- felizmente tínhamos os ouvidos aguçados e os conhecimentos ornitológicos do Peterson -e sem conhecermos nada sobre o local, ouvir, avistar e fotografar mais de uma centena de espécies de aves, sem contar os mamíferos e os insetos.
Mas neste último dia no pantanal as coisas não pareciam estar bem para nós, pois o Marcelo havia sido atacado por uma gangue de carrapatos ( eu falei para não ficar de bermuda e camiseta cavada) mesmo com o uso de repelentes,eu não havia dormido nada durante a noite por conta de um problema digestivo - provavelmente devido a um dos tais "lanches suspeitos" degustado na noite anterior- e o Peterson encontrava-se totalmente desmotivado para mais um dia andando pela estrada.
Literalmente arrastados pelo Marcelo saímos após um café da manhã espartano (no meu caso) e começamos a encontrar algumas surpresas pelo caminho, como algumas Araras Canindé e um Tuiuiú.


Tuiuiú com um topete branco a la "Cid Moreira"
Seguimos lentamente  parando algumas vezes até chegarmos a um pequeno restaurante por volta do Km 64, no local havia além de uma pousada um pequeno boteco e resolvemos parar para buscar algo de comer.
Não sabíamos que nossa boa sorte estava nos preparando uma série de surpresas...
Enquanto fotografávamos alguns visitantes do local - um João-pinto e um Cardeal que resolveu atacar o retrovisor de nosso carro - o Peterson perguntou ao jovem atendente do local se havia algo para comer e recebeu a resposta de que teria alguns poucos salgados para fritar.
Como não estava bem ainda recusei educadamente (blaaarrghhhhh) mas aguardamos enquanto o rapaz esquentava o óleo da fritura, pois o Peterson achou chato sairmos dali sem comprarmos nada.

João - pinto

Cardeal

Fugindo do calor infernal do meio-dia sentamos no boteco e aguardávamos a comida, quando o rapaz nos perguntou se éramos "passarinheiros" e quais aves estávamos procurando.Respondemos que sim e falamos sobre nossa intenção de fotografar a Jacurutu, quando o rapaz nos surpreende com a seguinte afirmativa:     " Mas aqui tem Jacurutu, ela fica toda noite pousada bem aí no corrimão, na sua frente!"
O Peterson resolveu confirmar se estávamos falando da mesma ave e ele afirmou categoricamente.Perguntamos então se ele já havia avistado ela durante o dia e respondeu-nos que havia ouvido ela em uma grande Figueira, nos fundos do local,distante uns 200 mts pasto adentro.
Após o nosso amigo ter engolido seus salgados entramos no pasto e rapidamente recebemos a confirmação do Marcelo (com seu mega binóculo) que haviam 2 indivíduos na tal arvore.Ao nos aproximarmos um pouco mais descobrimos que tratava-se de um casal (eram 2 indivíduos adultos) e um filhotão que já voava.
Não conseguíamos acreditar em nossa sorte, afinal quando iriamos imaginar que aquela parada neste local totalmente improvável nos traria um dos mega-lifer de nossa viagem!

Jacurutu
A família de Jacurutus não facilitou a nossa vida e voavam de uma arvore a outra assim que nos posicionávamos para fotografa-los, até que não tínhamos mais como avançar para dentro da mata e resolvemos então deixa-los em paz, mesmo com poucas fotos feitas o registro estava garantido.
Voltamos ao boteco para agradecer o rapaz quando tive a inusitada ideia de perguntar pelo Urutau gigante...e não é que deu certo!
Nosso guia iluminado nos disse ter trabalhado por quase 5 anos em uma pousada chamada Puma e por todo este tempo havia um Urutau que morava por lá.Ele- o guia - havia deixado o emprego a menos de 1 ano mas acreditava que o pássaro ainda estava lá.O problema é que a tal pousada ficava a uns 40 km de onde estávamos - e ele não tinha certeza desta distância - além do fato de estarmos sem almoço e eu com os reflexos de uma noite sem dormir e sem comer nada ainda.
Inspirados pela sorte com a Jacurutu resolvemos arriscar e combinamos de apertar o passo,parando o mínimo possível e com a intenção de almoçarmos na tal pousada.
Demoramos quase 1 hora e 40 minutos para percorrer esta distância- se bem que eu dormi quase todo o tempo-  e quando conseguimos encontrar a tal pousada...surpresa! O local  estava fechado para reformas a vários meses.
O Marcelo era o mais animado de nós e resolveu entrar no local e ver se descobria algo sobre o paradeiro do Urutau,depois de um longo tempo voltou dizendo que encontrou o dono do local e ele disse que estávamos com Sorte, pois as obras estavam paradas e ele só passou por ali para ver como andavam as coisas, quase não encontramos ninguém...
O Urutau tinha desaparecido dali quando as obras se iniciaram , mas ele havia recebido a noticia de que um outro indivíduo podia ser visto a alguns quilômetros dali- lá vamos nós de novo - , sendo que deveríamos procurar por uma porteira na beira da estrada a mais ou menos 1 km de uma outra pousada que veríamos no caminho, esta chamada de pousada Jaguar.
Achamos a tal pousada- lotada de motociclistas em uma animação excessiva -e logo a frente a tal entrada e não uma porteira como citado, seguimos pela via de terra e depois de algumas centenas de metros achamos uma construção parcialmente abandonada, com apenas uma casa com sinais de ser habitada.Não conseguimos entrar pois o local era cercado e havia uma corrente com um cadeado no portão.
Voltamos a pousada pela qual havíamos passado - os trilheiros já haviam partido - para pedir alguma informação e quem sabe conseguir almoçar (agora eu estava realmente com fome), mas um furação parecia ter passado pelo restaurante devastando as panelas e travessas com comida, sendo que as últimas porções estavam agora sendo degustadas pelos funcionários e por 3 homens - eram com certeza de alguma etnia indígena- sendo 2 rapazes e um senhor na faixa de uns 45 anos.
Perguntamos sobre o local que havíamos encontrado e sobre o Urutau e descobrimos que os 3 homens eram brigadistas do ICMBio e estavam morando e reformando aquela que era uma antiga estação usada para remanejamento de onças, mas que havia sido desativada a alguns anos.Um dos rapazes veio nos mostrar uma foto do Urutau, feita com uma pequena câmera compacta e se dispôs a nos mostrar o local, mas só depois que terminasse o horário de almoço...ou seja...depois de uma hora e meia!
Achamos melhor ficarmos em algum local com sombra e degustarmos um delicioso lanche que haviamos trazido-pão de forma com salame fatiado- e com a fome que estávamos isso parecia uma iguaria.Montei meu lanche e abocanhei com gosto quando o Peterson me chama e fala que o pão estava mofado!!! Foram quase 1 litro de Coca-cola quente para limpar o estrago...
Enquanto ficamos ali aguardando pudemos fazer algumas fotos e o Peterson pode testar sua rede camuflada com sucesso, fotografando um Martinho que estava entocado em uma pequena mata atrás de um alagado.

Peterson vestido de arbusto.
Foto: Marcelo

Um tempo depois vimos um dos homens - o mais velho e desculpem mas perguntamos o seu nome varias vezes, só que ele nos respondia em seu idioma nativo, portanto não conseguimos entender - caminhando em nossa direção pela estrada e nos informou estar indo abrir a estação para que pudéssemos ver o Urutau.Terminamos de arrumar as coisas e de recolher o nosso lixo e seguimos para lá, onde ele já nos aguardava com a porteira aberta. Estacionamos logo na entrada e descemos com o equipo. prontos para caminharmos mata adentro quando ele aponta para uma arvore ao nosso lado...
Parecíamos crianças em loja de brinquedos tal era a nossa agitação, pois na nossa frente e a poucos metros acima de nossas cabeças não estava apenas um Urutau gigante mas sim uma mãe com seu filhote...vai ter sorte assim lá em casa!!!!

Nosso segundo mega-lifer no Pantanal! O Urutau gigante com seu filhote...emocionante!!!

Dezenas de fotos e um pequeno vídeo gravado resolvemos seguir viagem, afinal tínhamos muito chão e ainda não havia comido direito. Demos uma pequena gratificação ao senhor - que nesta hora já tinha um nome em português- e este nos convidou para voltarmos no dia seguinte logo cedo, pois poderia nos guiar pela mata e mostrar muitas espécies que existem ali e que sabem onde encontra-las, mas nossa viagem ao pantanal estava terminando, ficando então a promessa de voltar aquele local e explorar as suas surpresas.
Durante o trajeto de volta mais algumas paradas e mais alguns lifers, mas já estava bom até aqui.

Martim pescador grande

Iguana

Cujubi

Por hora nossos corações estavam plenos, satisfeitos e felizes com a nossa boa sorte e pelas coincidências que nos levaram até aquele pequeno boteco na estrada,que nos levou a até aquela pousada em obras e que nos trouxe até este local abandonado onde a APENAS 3 DIAS estes homens haviam encontrado este Urutau com seu filhote.
Será que foi coincidência???